segunda-feira, 30 de novembro de 2009

CHARLES DARWIN E A SUA TEORIA DA EVOLUÇÃO DAS ESPÉCIES






Porque é que Darwin tem sido tão mal compreendido?

Editada em Novembro de 1859, a 1.ªedição de “Sobre a Origem das Espécies através da Selecção Natural, ou a Preservação das Raças Favorecidas na Luta pela Vida”, obra mais conhecida simplesmente por “A Origem das Espécies”, foi desde o início reconhecida como um extraordinário contributo para a Ciência, mas ao mesmo tempo criticada ao colocar em causa a divindade da origem dos seres vivos.
Não obstante o êxito obtido pela 1.ª edição da obra de Charles Darwin (obrigando a uma 2.ª edição em Janeiro de 1860), a teoria aí defendida só alcançou um verdadeiro triunfo na década de 40 do século XX, com o conhecimento acrescentado da genética das populações. Ainda assim, é actualmente mal compreendida e mal interpretada, sendo muitas vezes erradamente citada.
A teoria da selecção natural proposta por Darwin, no século XIX, baseava-se nos seguintes pressupostos: Os organismos variam, e estas variações são herdadas, em parte, pela sua descendência; Os organismos produzem mais descendentes do que os que têm possibilidade de sobreviver, existindo uma luta pela sobrevivência; Em média, os descendentes cujas variações são mais favorecidas pelo ambiente, têm mais possibilidade de sobreviver e produzir descendência (os mais aptos e adaptados e não os mais fortes); As variações dos organismos são aleatórias, podendo ou não produzir organismos melhor adaptados ao meio ambiente; As variações são pequenas originando um processo evolutivo das espécies lento e não repentino.
Foram poucos os argumentos científicos utilizados para contrapor a teoria de Darwin, a sua obra, escrita e reescrita durante cerca de 20 anos, estava muitíssimo bem fundamentada, fruto de um moroso trabalho metodológico e muito estudo e reflexão sobre os dados e observações recolhidas. A sua viagem pelo globo terrestre, a bordo do navio inglês HMS Beagle, entre 1831 e 1836, permitiu-lhe a recolha de inúmeros exemplares de fósseis, rochas e de animais e plantas, que posteriormente catalogou em colaboração com alguns taxinomistas e geólogos seus amigos. Toda a estrutura desta obra é incansavelmente justificada, baseando-se em factos e observações palpáveis. Mesmo após a publicação da sua obra Darwin continuou a investigar e a formular novas questões, consultou literatura da área e trocou correspondência com investigadores de todo o mundo. Por isto mesmo as várias edições da “Origem das Espécies” publicadas em vida contêm algumas correcções à obra original.
O grande obstáculo à sua aceitação reside nas implicações filosóficas da sua mensagem: A evolução não tem qualquer sentido, pois é resultado de acasos; Os indivíduos lutam entre si para aumentar a sua representação nas futuras gerações; A matéria é a base de toda a existência pelo que os fenómenos mentais e espirituais são seus subprodutos (mente, espírito e Deus são produto da actividade neuronal do ser humano). A refutação da obra trata-se, pois, de uma questão social, política e teológica. A teoria da evolução ameaçava o papel da Igreja na vigilância da estabilidade social e moral e, numa derradeira análise, punha em causa o papel do Estado.
No último capítulo da sua obra, o próprio Darwin admite a resistência que a sua teoria da selecção natural terá na Sociedade da época: “Não penso negar que podem opor-se à teoria da descendência, modificada pela variação e pela selecção natural, numerosas e sérias objecções que procurei expor em toda a sua força. Em primeiro lugar, nada me parece mais difícil de acreditar no aperfeiçoamento dos órgãos e dos mais complexos instintos, não por meios superiores, posto que análogos à razão humana, mas por acumulação de inúmeras e ligeiras variações, todas vantajosas ao seu possuidor individual. Contudo, esta dificuldade, ainda que parecendo insuperável à nossa imaginação, não poderia ser considerada como válida se se admitirem as condições seguintes: todas as partes do organismo e todos os instintos oferecem pelo menos diferenças individuais; a luta constante pela existência determina a conservação dos desvios de estrutura ou de instinto que podem ser vantajosos: e, enfim, gradações no estado de perfeição de cada órgão, todas boas por si mesmo, podem ter existido. Não creio que se possa contestar a verdade destas proposições.”
Muitos aproveitaram a sua obra para promover o domínio de uma espécie (Homo sapiens) sobre todas as outras e ainda mais grave de alguns grupos e culturas humanas sobre outros, de acordo com um suposto nível evolutivo superior, a que podemos simplesmente chamar de racismo. Na realidade, Darwin nunca menciona em “A Origem das Espécies” a espécie humana, a fim de evitar controvérsias maiores e porque ele próprio tinha dúvidas. Darwin defendeu que a Selecção Natural conduzia a uma adaptação crescente dos seres vivos ao ambiente e não que aqueles seriam cada vez mais complexos e evoluídos ou superiores. Ou seja, evolução não significa progresso para a complexidade, mas aumento de adaptação.
Actualmente a Evolução por Selecção Natural ou a Evolução de Darwin continua um tema em discussão, objecto de diversas investigações científicas, tema de debates filosóficos, políticos e religiosos. A ideia de Evolução foi o factor unificador de diversas áreas científicas (botânica, zoologia, genética, embriologia, paleontologia), como afirmou Dobzhansky, em 1973, “Nada faz sentido em biologia sem ser à luz da evolução.”

Professora Helena Antunes

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